quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

#23

estavam a sós e cercados por muitos números e marcas, rodavam e rodavam e rodavam e nunca
paravam e também nunca souberam bem ao certo o que ali faziam e porquê nunca paravam e porquê a eles perguntavam sempre a mesma coisa, como se fosse uma eterna obrigação saber o que ninguém sabia. eram três pessoas - um recém nascido, um de média idade e um mais velho - , cada qual no seu passo - eufórico, confiante, trépido - dignos de sua idade, cumprindo rigorosamente as cretinas normas da sociedade : ditados, parábolas , os roteiros feitos, TICTACTICTAC, essas coisas maçantes etc e tal. tudo ali era muito estranho, raros eram os momentos cujos encontros ocorriam. era sempre muito difícil o MOMENTO PERFEITO, sabe? aquele segundo exato no minuto correto da hora certa. a ocasião perfeita sempre naufragava. se não fosse pela já intríseca dificuldade do desejado MOMENTO PERFEITO, era pela hiearquia impregnada em cada um que asassinava a grande chance do encontro . o olhar sempre vertical. de cima para baixo os pelos da barba branca fatigavam-se ao ver o sorriso bestial da criança. quando contrário, de baixo pra cima, era o sorriso da criança que desdenhava a barba carcomida do velho. e ali no meio dos dois, sem entender nada,sem nada ter, jazia na podridão regular o homem médio.carente,calado,ignorante, sem sal.

com esses encontros( para não ser ridículo e usar o já tão profanado termo " desencontros") rotineiros, escreviam suas mórbidas rotinas em círculos viciosos de tictactictactic. até que por um acaso ( este também já desgastado pelos livros,versos e outas escrotices) os três olharam-se. estavam distantes um dos outros quando foram perguntados pela enésima vez o que nunca souberam responder - " que horas são? "-. a ficha caiu nas três pontas ao mesmo tempo. o encontro ocorreu. acordaram entre si sem nenhuma palavra o velho e a criança e ambos romperam as engrenagens. o do meio não, omisso ficou lá para sempre. sempre rodando,
sempre contando, sempre sem responder àquela mesma eterna pergunta e ainda mais sem ao menos enfim perguntar-se - quanto tempo ao tempo resta?.

Nenhum comentário:

Postar um comentário