quinta-feira, 26 de agosto de 2010

#17

dos sonhos pífios,
eu rio.
não há nada mais vazio do que edificar a vida
sentado num sofá confortável,assistindo televisão de LSD,
cuidando da fome dos filhos e transando sem tesão com a suposta metade de ti.

e rio,
ainda mais,
ao ver estes que na ruína concreta do absurdo,
acham que acham-se arquitetos de si.
posto que na ruína nada se constrói sem saber ao mínimo
que na ruína se está.

e eu rio quando me perguntam :
"e tu para onde vais com essas teorias?".
e ,enquanto rio, respondo com os dentes amarelos:

eu rio!!! meu rio é a antítese da tua ruína!!!
eu corro pelas margens à minha procura,
minhas margens ensejam à mim,
e se cá não é meu lugar,
lá há de ser.
contorno,retorno,movo,removo!

o mundo revolta minhas veias,
não há como ser diferente com a água deste meu rio.

meu rio será o coveiro da tua ruína.

quão mais revoltado ele for,
mais sentirá os entulhos do percurso,
e num momento de clarividência,
os rios confluirão, e juntos,
numa maré,
comerão o rabo de pedras,
que por tantos séculos
sufocaram nascentes,
pensando ser na vida, da vida, para a vida,
tudo o que nunca propriamente foram,
a vida.