ainda que morte não me assuste, a morte assusta.
hoje descobri que meu melhor amigo de infância morreu há uns 7 meses atrás e eu que já não mantinha contato com ele fazia uns dois anos, nada soube. fui saber por acaso, numa dessas inúteis perdas de tempo que fazemos sem dar conta - flutuar morbidamente de perfil em perfil nas redes sociais da internet.
ainda espantado com a notícia que chegou à mim como um bebê não previsto e absorto com a idéia de que uma história vivida por dois seria agora, concretamente , de apenas um só. me dei conta desta morte ter sido não a mais doída, mas a mais inesperada que vivi. a mesma idade que a minha. a pessoa com a qual dividi quase todos os momentos ingênuos, bestiais e alegres da minha infância, os segredos ridículos, as risadas tontas, brigas por brigas.tudo sem muita importância e culpa alguma. éramos crianças . e aliás, sem culpa tento resumir o que foi o nosso crescer junto - dois gordinhos patetas em seu mundo particular rolando no pátio dos meninos do fundão.
CARALHO!tanta história pra SETE MESES DEPOIS EU SABER?. isso me chocou. onde eu estava?. a experiência com o mundo real de ambos havia diminuído a nossa relação à esporádicas conversas descontextualizadas ao que estávamos vivendo. pura masturbação com o passado. eu sei disso e isso não me incomoda. o que incomoda é o susto da morte que mesmo dormindo conosco sempre debaixo da nossa cabeça, nos surpreende e repentinamente BUM! um corpo não-corpo. kilos de vísceras, braços, pernas,cabeça e NADA. o que me incomoda também é andar com uma história cuja única pessoa possível de compreender realmente agora já não há.
gabriel, se não meu primeiro amigo, o que me ensinou a amizade. guardarei dentro de mim, com um sorriso leve, a nossa infância . não há mais com quem ressucitá-la. e assim, com medo de que isso aconteça com outras pouquíssimas pessoas importantes e distantes, eu declaro a nossa história,6 anos depois e 7 meses atrasados - ENTERRADA.
terça-feira, 27 de julho de 2010
quinta-feira, 15 de julho de 2010
#15
paro.calo.penso.
há um fantasma que vive nas entranhas de minha sombra.
sombra que não me alcança quando me mexo.
só.quando.
paro.calo.penso.
e meu passado estende as mãos e me entrega :
fantasma e sombra.
como se eles não pudessem mais andar sem as mãos atadas.
e não podem.
é um DNA erigindo entrelaçado atrás de mim
fervendo meus pés. corroendo minhas orelhas.
me dando uma só única opção :
CORRER.
mas a fadiga das pernas e o respirar ofegante
me devolvem a prostração.
o fantasma reaparece.
logo aqui, atrás de mim, tão meu.
tão meu que estranho estar correndo dele.
tão meu que queria abraçá-lo.
tão meu que quando tento abraçá-lo
quem sai a correr é ele.
e como se fosse inevitável,
resolvi aceitar a nossa brincadeira.
bem simples. sem muita trama.
um pega-pega desses de crianças.
que vai acabar numa esquina,
cansado ou entedeado ou atropelado.
ou na sombra de uma nova sombra.
há um fantasma que vive nas entranhas de minha sombra.
sombra que não me alcança quando me mexo.
só.quando.
paro.calo.penso.
e meu passado estende as mãos e me entrega :
fantasma e sombra.
como se eles não pudessem mais andar sem as mãos atadas.
e não podem.
é um DNA erigindo entrelaçado atrás de mim
fervendo meus pés. corroendo minhas orelhas.
me dando uma só única opção :
CORRER.
mas a fadiga das pernas e o respirar ofegante
me devolvem a prostração.
o fantasma reaparece.
logo aqui, atrás de mim, tão meu.
tão meu que estranho estar correndo dele.
tão meu que queria abraçá-lo.
tão meu que quando tento abraçá-lo
quem sai a correr é ele.
e como se fosse inevitável,
resolvi aceitar a nossa brincadeira.
bem simples. sem muita trama.
um pega-pega desses de crianças.
que vai acabar numa esquina,
cansado ou entedeado ou atropelado.
ou na sombra de uma nova sombra.
#14
puxo uma cadeira e sento. espero um tempo que parece nunca passar. as coisas são mais doloridas sobre quatro patas inertes de madeira. mas sabe, sobre duas patas de carne & sangue as coisas também são tão doloridas quanto e as ainda as costas doem. portanto, já que não sei o que espero, sentarei com o coração na boca e esperarei QUALQUER COISA. menos isso.
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