terça-feira, 27 de julho de 2010

#16

ainda que morte não me assuste, a morte assusta.

hoje descobri que meu melhor amigo de infância morreu há uns 7 meses atrás e eu que já não mantinha contato com ele fazia uns dois anos, nada soube. fui saber por acaso, numa dessas inúteis perdas de tempo que fazemos sem dar conta - flutuar morbidamente de perfil em perfil nas redes sociais da internet.

ainda espantado com a notícia que chegou à mim como um bebê não previsto e absorto com a idéia de que uma história vivida por dois seria agora, concretamente , de apenas um só. me dei conta desta morte ter sido não a mais doída, mas a mais inesperada que vivi. a mesma idade que a minha. a pessoa com a qual dividi quase todos os momentos ingênuos, bestiais e alegres da minha infância, os segredos ridículos, as risadas tontas, brigas por brigas.tudo sem muita importância e culpa alguma. éramos crianças . e aliás, sem culpa tento resumir o que foi o nosso crescer junto - dois gordinhos patetas em seu mundo particular rolando no pátio dos meninos do fundão.

CARALHO!tanta história pra SETE MESES DEPOIS EU SABER?. isso me chocou. onde eu estava?. a experiência com o mundo real de ambos havia diminuído a nossa relação à esporádicas conversas descontextualizadas ao que estávamos vivendo. pura masturbação com o passado. eu sei disso e isso não me incomoda. o que incomoda é o susto da morte que mesmo dormindo conosco sempre debaixo da nossa cabeça, nos surpreende e repentinamente BUM! um corpo não-corpo. kilos de vísceras, braços, pernas,cabeça e NADA. o que me incomoda também é andar com uma história cuja única pessoa possível de compreender realmente agora já não há.

gabriel, se não meu primeiro amigo, o que me ensinou a amizade. guardarei dentro de mim, com um sorriso leve, a nossa infância . não há mais com quem ressucitá-la. e assim, com medo de que isso aconteça com outras pouquíssimas pessoas importantes e distantes, eu declaro a nossa história,6 anos depois e 7 meses atrasados - ENTERRADA.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

#15

paro.calo.penso.
há um fantasma que vive nas entranhas de minha sombra.
sombra que não me alcança quando me mexo.
só.quando.
paro.calo.penso.
e meu passado estende as mãos e me entrega :
fantasma e sombra.
como se eles não pudessem mais andar sem as mãos atadas.
e não podem.
é um DNA erigindo entrelaçado atrás de mim
fervendo meus pés. corroendo minhas orelhas.
me dando uma só única opção :
CORRER.

mas a fadiga das pernas e o respirar ofegante
me devolvem a prostração.
o fantasma reaparece.
logo aqui, atrás de mim, tão meu.
tão meu que estranho estar correndo dele.
tão meu que queria abraçá-lo.
tão meu que quando tento abraçá-lo
quem sai a correr é ele.

e como se fosse inevitável,
resolvi aceitar a nossa brincadeira.
bem simples. sem muita trama.
um pega-pega desses de crianças.
que vai acabar numa esquina,
cansado ou entedeado ou atropelado.
ou na sombra de uma nova sombra.

#14

puxo uma cadeira e sento. espero um tempo que parece nunca passar. as coisas são mais doloridas sobre quatro patas inertes de madeira. mas sabe, sobre duas patas de carne & sangue as coisas também são tão doloridas quanto e as ainda as costas doem. portanto, já que não sei o que espero, sentarei com o coração na boca e esperarei QUALQUER COISA. menos isso.