segunda-feira, 18 de outubro de 2010

#19 acerca do andar pueril calcinado

andava meio torto pelas beiradas de minha cidade,
tombava de guia em guia, até chegar
num lugar qualquer, numa paisagem vazia,
da qual eu tentava atravessar e com a cara batia.

nada eu via
nada eu sentia
mas dali,
não passava e nem saia.

as sirenes soavam, o fardo azul reluzia,
armas titânicas ressoavam no tímpano.
muito ozônio, muita cerca, muito estampido.

NADA.
NADA.
NADA.


rodopiava o mundo incessantemente.
ao andar sobre o céu , o cimento era tão leve,
e as nuvens, eu afastava num sopro.

o mundo era tão gostoso
um mundo em que não batia a cara
e nem batiam na minha.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

#19

na bosta! na bosta eu fico.
um maço de cigarros e a cabeça perdida.
o gosto da humilhação tatuado nos dentes;
mais um belo serviço, querida nicotina.
seja bem vinda aos escombros da memória,
há muito aqui já habita outros pesticidas.

roa meus dentes,
extermine as minhas lembranças.
isso é tudo que sobrou de mim
depois de nós.

dos nós, só sobrou o da humilhação
dos nós, só sobrou o da humilhação
dos nós, só sobrou o da humilhação

vem-te a mim desprezo,
repouse na minha boca e morda minha cabeça.

pesticida com gosto de nicotina
isso é tudo que sobrou de mim.

seja bem-vindo,
leal desprezo.